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Trabalho de Conclusão de Curso

O jornalismo fala a si mesmo: análise de livros sobre a prática da notícia e da reportagem
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Monografia
Trabalho de Conclusão de Curso - Graduação em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo
Aluna: Flávia Souza de Siqueira
Professora orientadora: Rosana Lima Soares
CJE - ECA - USP


Resumo:

O objetivo deste trabalho é analisar o discurso de algumas obras sobre a prática da notícia e da reportagem, procurando verificar que imagem de jornalismo/jornalista elas defendem ou representam, que características e elementos são valorizados ou desvalorizados por seus autores e quais “mitos” da profissão elas reproduzem. O estudo é composto por duas partes – (1) levantamento teórico / bibliográfico das áreas de Teoria do Jornalismo e Análise do Discurso e (2) análise das obras selecionadas (corpus): A prática da reportagem, de Ricardo Kotscho; A arte de fazer um jornal diário, de Ricardo Noblat; Repórteres, coletânea organizada por Audálio Dantas; e o Manual da Redação da Folha de S. Paulo.



Considerações finais:

Com o término deste trabalho, o que fica é, principalmente, a conclusão de que o discurso dos jornalistas sobre o jornalismo é um rico objeto de estudo. A partir dele, podemos sistematizar os mitos, as aproximações e os distanciamentos em que está calcada a definição do ser jornalista e do fazer jornalismo – que, vale ressaltar, não pode ser vista em uma unidade nem em um continuum. Essa “definição” é, antes de tudo, ambígua. O mesmo jornalista que fala sobre o “vício” de se pensar um jornal sob o ponto de vista do mercado e exalta a primazia da ética e da missão social da reportagem, pode, momentos depois, louvar a prerrogativa de escolha do leitor-consumidor e a busca pelo furo de reportagem, um dos mitos da profissão intimamente vinculados à idéia de concorrência.

A profissão jornalista, assim como todas as outras, não se caracteriza apenas pelo seu produto (a notícia, a reportagem, a fotografia, a informação), mas exerce um papel mais amplo no “teatro social” e no conjunto de tipos sociais, com seu jogo de significados e imagens – imagens míticas como a do repórter como “herói solitário”, a do jornalismo como missão social, a da reportagem como aventura, a da instituição jornalística como centro de vigilância e conhecimento.

Nosso objeto de interesse ao longo deste trabalho – agora, é possível perceber com mais clareza – foi o discurso que busca definir, de um lado, o lugar do jornalismo na sociedade e, de outro, as condições para um indivíduo ocupar um lugar dentro dessa instituição.

Essa demarcação de lugares e posições não pode ser desvinculada da idéia de acesso à profissão. Ao longo deste estudo, pudemos identificar três instâncias que podem ser consideradas concorrentes no processo de legitimação de um indivíduo para exercer a profissão de jornalista: (1) a fala nostálgica e romântica dos “mestres” da profissão (da qual os “livros de jornalistas” aqui estudados são um exemplo), (2) as próprias organizações jornalísticas, com seus programas de treinamento e manuais e (3) o ensino acadêmico / universitário, pouco analisado neste estudo e que mereceria um olhar mais aprofundado.

Aprofundar o estudo dessas três instâncias e suas relações, identificar outras instituições que se inserem nesse processo, analisar de forma mais aprofundada um número maior de textos e falas e rever – ou questionar – as afirmações feitas neste trabalho são, a meu ver, objetivos válidos para estudos futuros sobre o acesso ao jornalismo enquanto profissão.

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